Vídeo do dia

Half a World Away from Matt Ferrington on Vimeo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Muito além do picadeiro


As acrobacias que fazem a magia do circo estão cada vez mais populares. Descubra as vantagens dessas atividades físicas e entre nessa trupe:




A uns 10 metros de altura, um homem ensaia o primeiro passo sobre uma corda bamba, no intuito de atravessá-la até a outra ponta. Poucos minutos depois, lá está ele no lado oposto, de braços abertos, para receber os aplausos do público. No chão, um rapaz pula sobre um trampolim, dá duas cambalhotas no ar e cai, sentado, entre os ombros de dois homens que estão no topo de uma pirâmide humana. Um instante mais tarde, uma mulher entra em cena trazida em uma mala, e de dentro dela se desdobra e sorri. Números como esses, tão comuns nos picadeiros do mundo todo, certamente estão presentes nas lembranças de infância (ou de adulto) de muitos de nós. Mas, vamos admitir, o que não é nada comum é a capacidade que essas pessoas têm de superar os limites do próprio corpo. De onde será que vem tanto equilíbrio? Tanto domínio? Tanta elasticidade? A tal “magia do circo” está justamente no prazer, no medo e no entusiasmo de ver a destreza que esses artistas têm de fazer coisas que parecem impossíveis à plateia.

Por muito tempo os ensinamentos das habilidades do circo ficaram restritos a algumas famílias. Só os filhos de malabaristas é que aprendiam sobre as técnicas dos malabares. Essa característica exclusivista só passou a mudar mesmo na segunda metade do século 20, quando surgiram (principalmente na Europa) as escolas de circo que podiam ser frequentadas por pessoas que não tinham nascido sob uma lona. No Brasil, elas se tornaram mais presentes há pouco mais de uma década e deram a oportunidade a pessoas que não querem ser profi ssionais dessa arte, mas apenas usufruir dos seus benefícios, tanto culturais quanto físicos.
Força de trapezistaAfinal, para se aventurar no picadeiro – com ou sem público – é preciso ter um bocado de força, resistência, flexibilidade e coordenação. Não necessariamente nessa ordem, claro, já que tudo depende da atividade escolhida. Todas as práticas circenses têm no corpo e nos movimentos sua base de sustentação. Além de lúdicos, os exercícios são supercompletos. “Em geral, eles ajudam a fortalecer a musculatura, aumentam a força, melhoram a flexibilidade e beneficiam a coordenação motora”, diz Rosana Jardim, diretora da Academia Brasileira de Circo. “Além disso, melhoram a sociabilização, o trabalho em equipe e a superação de limites.”

A publicitária Tissiane Rodrigues pratica tecido acrobático há três anos e meio. Procurou a atividade como uma forma de exercitar o corpo, fugindo das aulas tradicionais da academia. No começo, o pior foi o medo de altura, já que o único apoio são dois pedaços de pano presos lá no alto da lona. O praticante vai se enrolando no tecido e usando-o para subir cada vez mais. De lá de cima, faz acrobacias e movimentos de queda. “Vencer esse receio fez muito bem para mim! Hoje faço quedas a 6 metros de altura sem o menor problema, acho uma delícia”, diz. Outra dificuldade grande foi em relação à força exigida para poder “escalar” as fitas de pano. Ela diz ter ganhado muito mais agilidade e força “digna de um trapezista” com a prática constante. “Para fazer tecido, é preciso utilizar o corpo inteiro, principalmente a região abdominal e os membros superiores. Você adquire a força necessária depois de algum tempo. O importante é não desistir.”

O tecido está entre as modalidades aéreas mais acessíveis dos exercícios de circo, por causa da suavidade do material e da menor exigência de condicionamento físico se comparado ao próprio trapézio, por exemplo. Entre as outras práticas para quem quer começar a se aventurar estão a lira (arco de ferro preso ao teto por uma corda), o alongamento e a cama elástica, também conhecida nos picadeiros como trampolim acrobático, onde os saltos e piruetas é que fazem o show. Com um pouco de treino, o malabarismo também pode ser uma boa atividade para quem quer ter mais agilidade e coordenação motora. Tudo depende das experiências corporais de cada um e suas habilidades. Nas principais escolas de circo, antes de definir qual vai ser a modalidade que pretende seguir, ho praticante faz algo como um test-drive. “O aluno passa por diversas práticas para conhecer e identificar suas afinidades”, afirma Rosana.

A maioria das aulas é dividida por faixa etária ou por tipo de atividade. É possível resgatar para os pequenos (e grandinhos) alguns dos movimentos básicos de acrobacias de solo, como cambalhota, estrela, ponte, parada de mão e outras brincadeiras típicas da infância. Também o desafio de andar sobre as pernas de pau, se equilibrar na corda bamba feita de arame e dar saltos no trampolim agrada os praticantes de todas as idades.

Controle total do corpoO artista circense Martin Alvez começou na ginástica olímpica ainda adolescente e, por indicação de um treinador, passou a praticar também algumas atividades de circo para melhorar sua performance corporal. Ele diz que, apesar do preparo físico e da concentração que tanto a ginástica quanto o circo exigem, no picadeiro ele conseguiu encontrar a liberdade de se expressar melhor, de poder utilizar a dança, a música e a interpretação como aliados nas suas apresentações. “Na ginástica eu não tinha chance de errar. O circo permite que você brinque com os erros, é mais solto, menos rígido”, diz.

Porém, o principal ganho dos exercícios circenses, para ele, foi a consciência corporal que permitiu conectar-se com seu corpo de uma maneira mais expressiva. “Quando eu fazia só ginástica, era como um robô. Depois que comecei a praticar as aulas de circo, meus movimentos deixaram de ser tão duros, tão mecânicos. Essas modalidades me permitiram ter maior domínio do corpo.” Em termos de nível técnico, Martin diz que o circo também é mais acessível, já que você pode usar a criatividade e fazer um exercício mais simples tecnicamente, mas com um componente artístico muito bom. “Os exercícios de circo são mais democráticos, permitem adequar os movimentos às suas condições e limitações físicas.”



Arte popularEssa democratização do circo, aliás, não está só no fato de suas modalidades terem sido levadas a outros espaços como clubes, academias, praças e até nos cruzamentos das avenidas das grandes cidades. Mas também pela arte circense, por ter um caráter tão popular, ter sido adotada por outras manifestações culturais e esportivas. “A prática do circo, que era em seus primórdios unicamente destinada ao entretenimento e espetáculo, passou a ser vista como uma forma de promover condicionamento físico, saúde e até como recurso terapêutico para muitas pessoas”, afirma Aline Essu, professora de acrobacias e solo. O fato de o conhecimento do circo ter atravessado a lona permitiu que muita gente que era antes apenas público se tornasse também praticante, mesmo que com objetivos muito diferentes daqueles que orientam o trabalho dos profissionais dessa arte.

Dessa forma, o circo passa a ser mais acessível, seja nos espaços onde a prática é oferecida, seja no imaginário popular. Tanto que outras formas de expressão artística, como o teatro e a dança, também têm incorporado a forma livre e divertida do picadeiro em alguns de seus movimentos e apresentações.

Desde criança, o mineiro Luis Sartori tem uma capacidade criadora inquietante que já o fez se embrenhar por diversas atividades como ilustrador, baterista, ator, dançarino. Formado em belas-artes, encontrou no circo uma forma de deixar aflorar toda sua criatividade. Tanto que ele partiu para a Bélgica para estudar na famosa Escola Superior de Artes do Circo, onde criou espetáculos premiados em que une a dança contemporânea a algumas modalidades típicas circenses como o malabarismo. “O circo ainda está descobrindo sua verdadeira identidade e, por isso, é um campo muito aberto para se explorarem diversas manifestações”, diz o artista.

Luis tem a convicção de que, uma vez que a pessoa está no palco ou no picadeiro, tudo é válido. “O importante é usar todas as ferramentas e todos os recursos do seu corpo para criar suas próprias formas de se expressar.” Nisso, o circo pode ser um grande aliado – agora bem ao alcance de todos nós.

Fonte: www.vidasimples.abril.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário